esperar-te-ei,

quiçá me encontres na minha ausência. de resto, esse foi o propósito a que ousámos propor-nos.
tomara ter um só código postal e nele perpetuar toda esta utopia em que nos temos vindo a tornar. personificar-nos, por fim.
causar-te-á transtorno que nos rapte?

estão as horas conjugadas

em indesculpáveis pretéritos. por cedo te ver ida, não soube regressar a horas.
na possível dor de acabares longe, a dor é não só possível, como não acabada. estou também por terminar, depois de me teres encerrado num capítulo que não houve.
sei não haver já tempo que caiba em horas tão desacertadas e que o tempo que resta vem estando atrasado, mas também eu atraso o corpo se não to cedo, e a validade do meu beijo não pretende réguas que a meçam, se na tua boca guardaste um outro.
habito hoje em cada endereço onde não pernoitas. em todas as moradas te espero.

morremos em vão,

meu Amor. adiámo-nos vezes sem conta na ausência do nosso abraço e os ponteiros deitaram-se um sobre o outro para não mais ver morrer o tempo. somos pó & tinta, meu Amor. pó e tinta com que não ousámos manchar o papel gasto que nos acorda para um fracasso tremendo nesta realidade imaginária. lágrimas e raiva do tamanho da natureza que não dominamos. podíamos ter sido tudo, mas ficámo-nos invariavelmente pelo nada. pelo nada, meu Amor, invariavelmente pelo nada.

permite-me

morrer em ti. perpetuar-te pelas ruas desta cidade, escrevendo em cada pedra da calçada o quão insane é este amor que me mina e não me permite que haja mais vida para além da que encontro no teu sorriso rasgado. não! jamais farei de ti o fragmento de carne que és aos olhos de quem te devora. de todos esses que repetidamente cospem o teu corpo, esses que tentam em vão apagar os mil aromas que preenchem a tua epiderme, desses encarregar-me-ei eu de os exterminar. não há drogas que matem o teu encanto.

os dias são fardos que pesam à noite,

e não sabes como me tem custado contá-los. há nos ponteiros um tempo que pende incerto às suas voltas.
ensina-me a amar-te e a acreditar que não partirás como partiram todos os que um dia soube amar.

esta noite, mata o mundo e foge comigo!

sabes,

eu sou tão má de amar.